domingo, 25 de julho de 2010

"Anda, vem me lumiar com sua chama
Vai anoitecer..."
Lô Borges


Era noite, era dia, não sabia. Não sabia a hora, não sabia se era hoje ou ontem, amanhã ou depois. Mas sabia que aqueles olhos não podiam deixar de olhá-la. Muito mais que beijos, pele na pele, arrepios e entre lençóis, ela queria mais que tudo morar naqueles olhos e passear naquele sorriso.

Ele gostava de andar por aquelas curvas e conhecer cada milímetro de pele dela, dos dois se misturarem em suor e lençóis. Mas quando olhava os olhos dela suplicando pelos olhos dele, ele sorria seu sorriso mais sincero e e desejava nunca se perder dela.

Suplicaram-se tantas e tantas vezes, eram tanto querer e tanta urgência que não saberiam dizer se um era dentro do outro ou os dois eram em um só. Eram a mesma poesia, a mesma música, choviam, lumiavam um com a chama do outro. Apossaram-se um do outro com toda vontade e de repente eram muito mais que amantes: eram tudo que há de bonito na vida, e isso bastava. Ser. Eles foram. Eram. São. Sempre serão.Conjugados em todos os tempos verbais. Mesmo que os lençóis não embolassem, que não houvesse urgência: seus olhos jamais se perderiam. E é por isso que eles foram. Eram. São. Sempre serão.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Eles.

Ele ia dizendo que não podia mais, que havia outra, que continuaria amando-a da mesma forma, enquanto ela bebia avidamente inúmeros copos de chopp. "Preciso de algo mais forte", pensou, e enquanto ele a olhava pedindo compreensão ela levantou o braço e disse:
- Juvenal, um whisky duplo sem gelo, por favor.

Depois de um demorado gole de coragem, olhou nos olhos dele, engoliu uma lágrima, respirou fundo e pediu:
- Só não me apague dos seus olhos. Sei que você nunca foi meu e nem eu de você, mas sempre que eu te olhar eu quero me encontrar.

Ele, no entanto, não conseguiu engolir suas lágrimas. Repetiu que a amava e que o que eles viveram era para sempre. "Você não me respondeu", ela disparou. Ele pegou suas mãos e disse:
- Enquanto eu me encontrar nos seus olhos, jamais vou te apagar dos meus. Enquanto nós existirmos vamos nos amar da mesma forma que nos amamos desde o primeiro olhar.

Ficou muda. Não parava de olhar nos olhos dele e pensar, na velocidade da luz: por que ele piora o que já é difícil? Vai, me leva com você e esquece dessa conversa, enquanto, à meia-luz, tocava aquela música que diz "invento artifícios pra nunca te perder" e os dois, juntos, completavam:
-"Eu não vou te perder".

Sorriram e ela pediu mais um whisky. Os dois viam seus sentidos lhe trairem, tamanha embriaguez. Marina Lima começou "Não quero sugar todo seu leite..." - era a música deles! - e ela não se conteve:
- Vem, dança comigo.

Ele acatou e a tomou nos braços. Doía sentir o toque dele, mas o álcool a anestesiara e ela só queria que aquilo durasse para sempre. Mais uma vez juntos, entoaram:
- "Seu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito pra nós dois".

E se entregaram ao fogo que lhes queimara tantas vezes. Era a última noite.